“É raro que uma palavra sozinha consiga capturar uma constelação histórica específica, mas isso pode muito bem aplicar-se a um conceito usado desde a virada do século: biopolítica.
Até há pouco conhecido somente entre um número restrito de especialistas, biopolítica tem hoje reverberação cada vez mais ampla. Tem sido fundamental em questões tão heterogêneas quanto as ideologias racistas e as políticas genocidas, o meio-ambiente e as inovações biotecnológicas, a pesquisa de células-tronco, as tecnologias reprodutivas e o genoma humano.
A partir de pensadores como Foucault, Agamben e Negri, biopolítica é também chave interpretativa para a análise e a crítica de formas contemporâneas de poder – frequentemente de modo profundamente novo e original –, ao conectar o tema do governo político dos humanos com questões relativas ao corpo, à raça e ao gênero.”
Neste encontro na Tapera Taperá, o sociólogo Eduardo Altheman Camargo Santos irá procurar responder à questão: por que discutir a biopolítica no Brasil de hoje? A pergunta é provocadora. Afinal, o signo forte de nossa história não seria muito mais a política da morte e da espoliação, do silenciamento e da exclusão, do desaparecimento e da negação? Como falar em política da vida, quando é precisamente esta que parece estar banida do horizonte de expectativa e dos cálculos da arte de governo tupiniquim? Em suma, se Michel Foucault ensinou que biopolítica “faz viver e deixa morrer”, os polos não seriam invertidos ao Sul do Equador?
>> Thomas Lemke é professor de sociologia com foco em Biotecnologia, Natureza e Sociedade na Universidade Goethe de Frankfurt. Ele pesquisa teoria social e política, biopolítica, novos materialismos, estudos sociais de tecnologias genéticas e reprodutivas. Suas publicações incluem: Science and Technology Studies: Klassische Positionen und aktuelle Perspektiven, Foucault, governamentalidade e crítica (ed. Politeia) e A Critique of Political Reason. Em 2018, recebeu um prestigioso financiamento concedido pelo Conselho Europeu de Pesquisa por seu projeto CRYOSOCIETIES.
> Eduardo Altheman C. Santos é mestre e doutor em Sociologia pela FFLCH/USP. Realizou estágio de pesquisa na Universidade Goethe sob orientação de Thomas Lemke. É autor de O poder da economia e a economia do poder – neoliberalismo e governamentalidade em Foucault (ed. FFLCH/USP, 2015), e tradutor de Foucault, governamentalidade e crítica.