Lançamento do livro “Corpos que Sofrem”

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Lançamento do livro “Corpos que Sofrem”

Date: 22 de abril de 2019
Time: 19:00

No dia 22 a Tapera recebe o lançamento do livro “Corpos que sofrem: como lidar com os efeitos psicossociais da violência?”, organizado por Maria Luiza Galle Lopedote, Daniela Sevegnani Mayorca, Dario de Negreiros, Marcela de Andrade Gomes e Tomás Tancredi, com revisão técnica de Silvia Carone Wheatley, e publicado pela Editora Elefante.

Sobre a publicação
“No Brasil, ao psicanalista que se queira ético não bastam a boa compreensão teórica e a competência técnica necessárias para, da poltrona de seu consultório, conduzir o trabalho analítico sem perder de vista o direcionamento clínico e o horizonte normativo que lhe subjazem – e não que isso seja pouco.

Ocorre que os seus consultórios são cercados por cinquenta milhões de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza, um a cada quatro de seus compatriotas, bem como pelo recorde mundial de mortes violentas. Imaginar um brasileiro acreditando poder encontrar as chaves de compreensão deste cenário no trabalho exegético dos textos clássicos da bibliografia europeia seria cômico, caso esta espécie de intelectual ensimesmado não fosse mais uma personagem comum na composição de elenco da tragédia nacional. Os textos reunidos neste livro, o leitor verá, em nada lembram a verborragia típica desta figura picaresca.

Todos os autores aqui reunidos fizeram parte, de algum modo, dos trabalhos realizados pelo Centro de Estudos em Reparação Psíquica de Santa Catarina (CERP-SC); em sua maioria, foram palestrantes do curso “Como lidar com os efeitos psicossociais da violência?”. Os que passaram por essas salas de aula sabem bem que as providências a serem tomadas por um profissional de saúde mental na periferia do capitalismo incluem debruçar-se com seriedade sobre os impasses de nossos esforços de democratização – tais como, mas não só, os golpes de Estado de 1964 e 2016 –, os obstáculos ao bom funcionamento dos sistemas públicos de saúde e assistência social, a violência perpetrada pela polícia e pelas facções criminosas, a brutalidade inominável de nossos presídios, o racismo estrutural e os privilégios da branquitude, a atenção ao louco infrator, à população LGBT, aos usuários de drogas, à população de rua, a imigrantes e refugiados, aos familiares de desaparecidos, a crianças socialmente vulneráveis, dentre outras tantas questões.

Eis o que animou a escrita deste livro, empolgou quase quatro mil pessoas a irem às aulas públicas que fizeram parte deste projeto e motivou mais de cem profissionais a concluírem nosso curso de longa-duração: estes espaços foram ocupados e estas linhas foram escritas não com ideias anódinas, mas por corpos que sofrem. São corpos de pesquisadores que, sujos de barro, escrevem com os pés; corpos de alunos que, ao longo de três semestres, trouxeram quinzenalmente às nossas salas de aula o barulho produtivo dos equipamentos públicos de saúde e assistência social nos quais trabalham diariamente; e são, também, aqueles mesmos cinquenta milhões de corpos da ralé, de sujeitos monetários sem dinheiro, enfim, dos pobres e miseráveis que do setting psicanalítico tradicional até hoje não puderam conhecer mais do que os muros altos e as cercas-elétricas.”
Dario de Negreiros

“Em resumo, a violência não é percebida ali mesmo onde se origina e ali mesmo onde se define como violência propriamente dita, isto é, como toda prática e toda idéia que reduza um sujeito à condição de coisa, que viole interior e exteriormente o ser de alguém, que perpetue relações sociais de profunda desigualdade econômica, social e cultural. Mais do que isto, a sociedade não percebe que as próprias explicações oferecidas são violentas porque está cega ao lugar efetivo de produção da violência, isto é, a estrutura da sociedade brasileira.”
Marilena Chaui, em “O que é democracia?”

“O debate sobre prisão vai muito além do que acontece ou não dentro das prisões: versa sobre qual sociedade queremos construir. […] As universidades tem uma responsabilidade muito grande nisso: o pensamento e as ações acadêmicas precisam se debruçar sobre essas coisas, que não vão atravessar a porta do ensino superior sozinhas. O que cabe à universidade, hoje, é sair do seu espaço de conforto e privilégio, na busca pelos lugares de maior conflito na sociedade.”
Marcelo Freixo, em “O que acontece nas prisões?”.

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