SÁBADO COM DOSE DUPLA DE FILOSOFIA E POLÍTICA
*** ENTRADA NA GALERIA ATÉ AS 18H
17:00 – “Deleuze e as condições do agir”
Aula com Alexandre Mendes e Bruno Cava
Para o filósofo Gilles Deleuze, a virada da modernidade à pós-modernidade não se deu numa fratura estrondosa, quase como um acontecimento transcendente, tal como, por exemplo, em Adorno, que perguntou como seria possível ainda fazer poesia depois de Auschwitz. Para Deleuze, essa virada, que se caracteriza pela passagem paulatina das sociedades disciplinares às de controle, foi um acontecimento da ordem do imperceptível. Algo aconteceu e os problemas mudaram. Os Controlatos não atuam apenas no confinamento e formação dos sujeitos, como teorizado por Foucault em termos de poder disciplinar, mas diretamente na produção de subjetividade, sem cancelar a liberdade nem negar o desejo, mas *por dentro*, *no contínuo*, *no aberto*. Como afirmar o desejo e ao mesmo tempo resistir, sem cair numa concepção negativa de diferença? E como conjugar ruptura e imanência? Com a virada maquínica, se tornam impotentes as análises de conjuntura que interpretam o jogo de forças no presente para deliberar a ação de um sujeito histórico apto a realizar a tendência transformadora. A própria ideia de conjuntura entra em crise, pois se desfez o liame que poderia vincular o sujeito da análise com o sujeito da ação (seja ele o povo ou o proletariado), o que Deleuze chama, a partir dos seus dois livros sobre o cinema, de “ruptura do esquema sensório-motor” ou “crise da imagem-ação”. Em vez então de voltar à velha definição da justa linha política do “que fazer?”, segundo o primado do otimismo (desencantado) da vontade, é preciso perguntar antes pelas condições do agir. Antes da conjuntura enquanto atualidade, perguntar pelo campo virtual em que algo como uma subjetividade possa existir: como voltar a ser capaz de fazer o que quer que seja? De sentir, de amar? Eis aí a interpelação que o pessimismo alegre de Deleuze coloca ao desafio da transformação nas condições maquínicas das sociedades de controle.
~ 18:00 – “A constituição do comum”
Lançamento do livro editado pela REVAN, de Alexandre F. Mendes e Bruno Cava (2017), com os debatedores Malu Oliveira e Salvador Schavelzon.
São 300 páginas que sintetizam o trabalho teórico-político dos autores ao redor da teoria do comum e da multidão. O trabalho tem como referências análises do capitalismo (subjetividade, crise, governamentalidade) presentes em Toni Negri, Michel Foucault, Marx, Spinoza etc, mobilizadas ao redor do conceito de comum (The Common).
Entrada franca, acesso pela galeria aberto até 18:00.
SOBRE OS AUTORES E DEBATEDORES
Alexandre F. Mendes é professor da faculdade de direito na UERJ, foi defensor público entre 2006 e 2011, publicou “A vida dos direitos: ensaio sobre modernidade e violência em Foucault e Agamben” (Agon, 2008) com Bruno Cava, e organizou “A resistência à remoção das favelas no Rio de Janeiro” (Revan, 2016) com Giuseppe Cocco.
Bruno Cava é blogueiro e professor de cursos livres no Rio de Janeiro, mobilizando autores como Deleuze, Guattari, Negri e Spinoza, publicou “A multidão foi ao deserto” (AnnaBlume, 2013) e organizou “Amanhã vai ser maior” (2014) com Giuseppe Cocco, “Podemos e Syriza: experimentações na borda das lutas” (2015) com Sandra Arencón Beltrán e “A Terra Treme” (2016), com Márcio Pereira, com artigos em publicações como South Atlantic Quarterly, Le Monde Diplomatique, Multitudes, Chimère, The Guardian, Commonware, Al Jazeera e Alfabeta2.
Malu Oliveira é jornalista e mestranda em Mudança Social e Participação Política na EACH/USP, pesquisadora de redes digitais e o comum urbano no CELACC.
Salvador Schavelzon é professor da UNIFESP, doutor em antropologia social pelo Museu Nacional (UFRJ), publicou “Plurinacionalidad y Vivir Bien/Buen Vivir; Dos conceptos leídos desde Bolivia y Ecuador” (ClaCso, 2015) e “El nacimiento del Estado Plurinacional de Bolivia; Etnografía de una Asamblea Constituyente” (2010), e vários artigos sobre as lutas e movimentos na América Latina.