Nas últimas duas décadas, ampliou-se significativamente a diversidade de temas e formatos no mundo editorial brasileiro. Essa diversificação também pôde ser observada nos recortes de raça, gênero e sexualidade de autores e editores, embora o meio ainda reproduza desigualdades do país. Das livrarias às feiras, das escolas aos ônibus-biblioteca, cada vez mais ideias e grupos sociais se viram representados nas páginas dos livros.
Após vencerem uma eleição em que a “guerra cultural” esteve no centro do debate, o presidente eleito e os ministros por ele designados mantiveram posições que já haviam alarmado editores, escritores, educadores e pesquisadores. São propostas e projetos que ameaçam a liberdade de pensamento, a representatividade das minorias e a produção e difusão da ciência. Como se não bastasse, os membros do novo governo seguem elogiando ditaduras pregressas, que recorreram à censura e à tortura, e pregando a vigilância e o pensamento único sob os disfarces da ética e do apartidarismo.
Até que ponto decisões do novo governo podem desafiar políticas públicas para o livro e a leitura já consolidadas? Que mudanças esperar na produção de livros escolares num contexto de perseguição ideológica e desafios a valores que nortearam a defesa dos direitos humanos? Como prosseguir em trabalhos autorais diante dessa vigilância? Quais são as possibilidades e os limites para a difusão do livro para além dos programas de governo e das grandes redes de varejo, que, afundadas em problemas da própria gestão, põem em risco a sobrevivência de seus fornecedores? Essas são algumas questões sugeridas para esta mesa-redonda.
PARTICIPANTES
CAUÊ AMENI é editor da Autonomia Literária, integrante do coletivo Rizoma e curador da primeira edição da Flipei – Feira Literária Pirata das Editoras Independentes, além de ser um dos organizadores do Salão do Livro Político.
CÉLIA CASSIANO é doutora em educação pela PUC-SP e diretora escolar na rede municipal de ensino de São Paulo. É autora de “O mercado do livro didático no Brasil do século XXI” (Editora Unesp).
JOSÉ MUNIZ JR. (mediação) é professor e pesquisador no Departamento de Linguagem e Tecnologia do Cefet-MG e integrante do Programa de Estudios del Libro y la Edicion do Ides-Argentina. É autor de “Tinha um editor no meio do caminho” (Editora Artigo A).