Dia 18 de fevereiro a Tapera recebe o lançamento do livro “Linhas de Investigação: uma etnografia das técnicas e moralidades numa Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro”, de Flavia Medeiros, publicado pela editora Autografia. Uma mesa de debate ocorrerá durante o lançamento, com Flavia Medeiros, Juliana Borges e Larissa Nadai, mediadas por Acácio Augusto.
Sobre o debate:
“É comum dizerem que todas as pessoas são iguais diante da morte. No Brasil, que acumula números crescentes de mortes violenta, isso não é bem assim. A maneira como se organiza e se dá sentido às mortes violentas é sempre desigual e assimétrica. O corte assassino do racismo de Estado pode receber diversos nomes: ‘auto de resistência’, ‘homicídio’, ‘latrocínio’, ‘desaparecimento’. Mas há uma evidente regularidade quanto a quais corpos são matáveis, em como se racionaliza o alvo da necropolítica. Esta mesa, em torno do lançamento do livro ‘Linhas de investigação’, de Flavia Medeiros, procura olhar criticamente para essa ‘tradição brasileira’, que hoje se vê inflada por propostas de aumento da capacidade de matar do Estado. Seja por meio da efetivação do ‘excludente de ilicitude’, seja pelo endurecimento dos processos judiciais que favorecem o já gigantesco processo de superencarceramento no Brasil. Essa produção de cadáveres gira em torno das três palavras que nomeiam a mesa e é sobre isso que Flavia Medeiros, Juliana Borges e Larissa Nadai vão nos falar. Sem exagero discursivo, são questões urgentes, de vida ou morte.”
Sobre o livro:
“O objetivo deste livro é descrever e compreender como policias civis constroem “homicídios” ao longo de relações que envolvem o fluxo entre pessoas e coisas, em “linhas de investigação”. Ao explicitar traços e fios que se encontram, se cruzam e se misturam, compondo e rompendo percursos, Flavia Medeiros descreve como se constitui uma malha pela qual são traçadas e tecidas linhas diversas, preenchidas e vazadas pelas técnicas e moralidades dos policiais. Linhas de Investigação é uma etnografia que demonstra como os processos de investigação de homicídios estão orientados por uma tecnologia de governo sobre as mortes que reproduz um documento público: o “inquérito policial” de um “homicídio”. Investidos de poderes “de polícia” e “da polícia”, os agentes policiais exercem seu conhecimento prático e político e pelas técnicas e moralidades que compõe o saber específico dos policiais, utilizam-se de ferramentas e valores morais para elaborar procedimentos que definem, pelo cartório, a verdade policial sobre mortos e mortes.”
Sobre a autora e debatedores:
Flavia Medeiros é doutora em Antropologia (UFF). Bolsista pós-doc no Programa de Pós-Graduação em Antropologia e professora do Departamento de Segurança Pública do Instituto de Administração de Conflitos, ambos da UFF. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Antropologia do Direito e das Moralidades (GEPADIM/NUFEP), vinculada ao Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (NEIP) e à Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas (RENFA). Autora dos livros “Matar morto? uma etnografia do Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro” (EdUFF, 2016) e “Linhas de Investigação: uma etnografia das técnicas e moralidades numa Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro” (Autografia, 2018).
Acácio Augusto é doutor em Ciências Sociais (Política) pela PUC-SP. Professor no Departamento de Relações Internacionais da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios (EPPEN/UNIFESP – Campus Osasco). Professor colaborador no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Institucional da UFES. Pesquisador no Nu-Sol (Núcleo de Sociabilidade Libertária) e no grupo de pesquisa “Segurança e Defesa nas Américas” (UFF). Autor de “Política e polícia: cuidados, controles e penalizações de jovens” (Lamparina, 2013).
Juliana Borges é escritora. Feminista interseccional e abolicionista penal, é autora do livro “O que é encarceramento em massa?”, da Coleção Feminismos Plurais. Foi Secretária Adjunta de Políticas para as Mulheres e Assessora Especial da Secretaria do Governo Municipal da Prefeitura de São Paulo (2013-2016).
Larissa Nadai é doutora em Ciências Sociais (UNICAMP), na linha temática de Estudos de Gênero, mestre em Antropologia Social e graduada em Ciências Sociais, com ênfase em Antropologia e Ciência Política. É autora da tese “Entre pedaços, corpos, técnicas e vestígios: o Instituto Médico Legal e suas tramas” defendida em 2018. Tem como principais campos de atuação e pesquisa: gênero, sexualidade, práticas estatais e poder político, ordenamentos jurídicos e processos de documentação e arquivamento. Atualmente, está em trâmite um pós-doutoramento junto à FAPESP e ao Programa de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP).
Entrada gratuita.