Ordet é um filme em preto e branco de 1955, vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza. Trata-se de peça do dramaturgo Kaj Munk transposta pelo gênio do dinamarques Dreyer para o cinema. A história está centrada nos conflitos de uma pequena comunidade religiosa quando seus membros se vêem diante de um matrimônio indesejado e do enlouquecimento do jovem Johannes, interpretado magistralmente por Preben Lerdorff Rye, que começa a vagar pelos campos disseminando mensagens proféticas.
Cine Tapera com Laura Erber, escritora, editora e professora de Teoria e História da Arte da UNIRIO. Em sua tese de doutorado investigou com apoio do Danske Film Institut os arquivos do cineasta e a transição do cinema mudo ao sonoro. É autora de Esquilos de Pavlov (Alfaguara, 2013), Ghérasim Luca (EdUERJ, 2012) e A Retornada (Relicário, 2017). Dirige a editora digital Zazie Edições, voltada para teoria e crítica de arte.
DREYER
Mundialmente conhecido como diretor de A Paixão de Joana D’Arc (1928), o cineasta dinamarquês Carl Theodor Dreyer (1889-1968) realizou catorze longas-metragens – dentre os quais nove mudos e cinco falados – e oito curtas-metragens, atuou como jornalista e crítico de teatro e de cinema em importantes jornais dinamarqueses, além de ter coberto durante vários anos a vida do Tribunal de Justiça de Copenhague. Deixou três grandes projetos inacabados: uma adaptação da tragédia Medeia – filmada nos anos 1980 por Lars Von Trier –, um filme sobre o processo de Mary Stuart e outro sobre a vida de Jesus, que ele acreditava ser o mais importante de sua carreira e no qual trabalhou durante mais de duas décadas.
Abarcando temas tão diversos quanto a caça aos vampiros (Vampyr de 1932), litígios conjugais (Le Maître du Logis de 1925 e Gertrud de 1964), a Revolução Russa, (Amai-vos uns aos outros de 1921), a força profética da palavra religiosa (Ordet) e a Inquisição Religiosa (Folhas arrancadas do livro de Satã de 1919 e O Processo de Jean D’Arc de 1928), a decadência de um grande artista (Mikael, 1924) para cada um de seus filmes Dreyer elaborou uma estética rigorosa e um estilo singular que não cessam de inspirar e inquietar os amantes do cinema. Não apenas seu interesse temático é variado mas também seus filmes foram realizados sob condições de produção extremamente diferentes. Ainda na época do cinema mudo Dreyer filma na Suécia, na Noruega e na Alemanha, trabalha com atores do Teatro de Oslo, do Teatro de Moscou, com a então ilustre atriz Renée Falconetti, com o poeta e ator Antonin Artaud e com Eugène Silvain, célebre ator da Comédie Française.