Lançamento: Enigma do Disforme

Lançamento da Plataforma: #igualdadetemvoto
20 de agosto de 2018
Lançamento em SP: Novos Contos + bate-papo com Helena Ignez
25 de agosto de 2018

Lançamento: Enigma do Disforme

Date: 30 de agosto de 2018
Time: 19:00

Lançamento e debate entre os autores Bruno Cava e Giuseppe Cocco e o filósofo Paulo Arantes.

“Quando as manifestações de junho de 2013 começaram a se massificar nas grandes metrópoles brasileiras e a se espalharem pelo país, os dirigentes do governo e seus intelectuais ficaram incrédulos, perguntando-se: “Por que protestam?”.

Este livro retoma uma reflexão crítica da experiência dos governos progressistas na América do Sul e particularmente do caso brasileiro, que parecia o mais estável dentre eles.

Também volta a Michel Foucault e suas reflexões sobre o neoliberalismo e, ainda, assume o desafio programático de formular uma teoria da subjetividade nas condições de subdesenvolvimento ou altermodernidade. Uma teoria das formas difíceis, do disforme e da multidão.”

—————————————————————————————-

“A vitalidade da literatura de formação nacional se prolonga de 1930 a 1980, o que coincide com o período clássico do nacional-desenvolvimentismo, entre as ditaduras Vargas e Geisel. Nesse paradigma teórico-político, o problema da formação se refere à dificuldade em aplicar uma forma desenvolvida à matéria propriamente brasileira. Por que o Brasil não dá certo? Quais são os gargalos crônicos, os entraves estruturais, as carências sistêmicas, as trocas desiguais? A forma aí é entendida como um modelo de desenvolvimento conjugado com a emancipação do país, a fim de formar uma economia de mercado forte, com um povo orgânico, um empresariado progressista e uma cultura da coisa pública e de serviços universalizados.

Ao longo do século passado, apareceram outros pensadores que rejeitaram o esquema hilemórfico implicado nesse paradigma, isto é, um esquema que opõe a forma ativa, produtora, viril, a uma matéria amorfa, passiva, uterina, que deveria receber de fora o seu princípio de fecundação de valores e organização produtiva. Por exemplo, em trabalho de imaginação poética, Oswald de Andrade elaborou a alternativa de um cadinho onde um novo ser humano é convocado pela revolução caraíba, uma nação antropófoga, essencialmente disformada por seus paradoxos. No movimento artístico que lhe seguiu as pistas, com Caetano, Oiticica ou Glauber, dentre outros, foram vários os esforços de redesenhar os desafios da formação levando em conta o barroco de seu inacabamento, a antropofagia de sua relação palpitante com a alteridade, de um povo que falta mas que por isso mesmo é pleno de devires. Tudo para escapar da modelagem desenvolvimentista fundada na negatividade de uma falta originária.

Mais recentemente, o historiador das artes Rodrigo Naves remontou ainda outro fio obscuro, para além dos oswaldianos tropicalistas, a partir de artistas plásticos que trabalharam integralmente dentro do que ele chama de percurso da “forma difícil”, como Iberê Camargo, Lygia Clark ou Amílcar de Castro. Em artigo à revista Piauí, Marcos Nobre escreveu sobre como a perda de vitalidade da literatura de formação nacional está relacionada com o fim do paradigma da formação, quando nos veríamos obrigados a abraçar, em definitivo, os enigmas da forma difícil.

As jornadas de junho de 2013, nesse sentido, foram o ponto de emergência desse novo horizonte de desafios para os tempos não-hilemórficos da forma difícil. Dentro desse escopo de problematização, que articula várias alturas históricas (a longue durée da colonização, o ciclo longo desenvolvimentista, a recente experiência dos governos progressistas), Giuseppe Cocco e eu escrevemos esse ensaio em 140 páginas, para realizar a transposição do diagnóstico da forma difícil para a positividade do disforme.”

 

Página do evento no Facebook: clique aqui.