No dia 09 de setembro, às 19 horas, acontece o lançamento do livro “Ominíbú: Maternidade Negra em ‘Um Defeito de Cor'”, de Fabiana Carneiro da Silva, publicado pela EDUFBA – Editora da UFBA. Haverá debate entre Fabiana Carneiro da Silva, Ana Maria Gonçalves e Ligia Ferreira, mediadas por Luciana Dias. Além disso, haverá uma intervenção artística com Inayara Iná e Luana Bayô.
“É a partir do romance Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves, que Fabiana Carneiro da Silva revisita os significados da maternidade negra no Brasil. “Das profundezas das águas”, como sugere o título Ominíbú, termo do iorubá, são revolvidas as histórias acerca das travessias feitas por uma mulher corajosa que enfrenta os embates de uma ordem que intenta explorar até a exaustão os corpos marcados pela ideologia escravagista. No romance, o tema da maternidade emerge em um cenário construído por uma mãe que, ao final de sua vida, narra as tentativas de localizar o filho, vendido como escravo pelo próprio pai. Tecendo uma análise estética apurada, Fabiana da Silva evidencia as correspondências entre a conformação do relato-carta da protagonista e o contemporâneo. Desde a teoria literária, esse livro busca um diálogo sensível à experiência das comunidades negras, sobretudo das mulheres a elas pertencentes, a fim de promover uma reflexão comprometida com a construção de um espaço plural questionador do fundamento racista da construção nacional brasileira.”
“Fabiana Carneiro da Silva tece um caminho que alinhava docência, pesquisa e ações artísticas no campo dos saberes contra-hegemônicos. Doutora e mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP) e bacharel e licenciada em Letras (português e espanhol) por essa mesma instituição, atua como professora Adjunta do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC) da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), sendo vice-coordenadora da Licenciatura Interdisciplinar em Artes e suas Tecnologias. Concebeu e dirige a série Literatura inteira e o projeto artístico Mulher meio-fio. Tem experiência de investigação e ensino nas seguintes áreas: arte e educação/literatura e ensino; estéticas negro-brasileiras; literaturas de língua portuguesa e suas teorias, com ênfase na literatura brasileira; teoria literária e crítica cultural; memória, narrativa e comunidades quilombolas. Foi professora na rede básica de ensino e em projetos sociais, âmbito no qual destaca a proposição de oficinas de escrita autobiográfica para/com mulheres quilombolas. É membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Ensino e Relações Étnico-Raciais (PPGER-UFSB), integra o colegiado da Especialização em Pedagogias das Artes: linguagens artísticas e ação cultural (UFSB) e o grupo de pesquisa Sobre o corpo feminino – literaturas africanas e afro-brasileira (UNILAB-CE). Desenvolve estudo sobre a produção artística negro-brasileira, sobretudo literária, detendo-se na análise das poéticas contemporâneas que propõem transfigurações do passado escravista no Brasil.”
Ana Maria Gonçalves
Publicitária por formação, residiu em São Paulo por treze anos até se cansar do ritmo intenso da cidade e da profissão. Em viagem à Bahia, encantou-se com a Ilha de Itaparica, onde fixou moradia por cinco anos e descobriu sua veia de ficcionista, passando a se dedicar integralmente à literatura e ao multifacetado universo cultural da diáspora africana nas Américas. Sua estreia no romance se dá em 2002, com a publicação de Ao lado e à margem do que sentes por mim – “livro terno, íntimo, vivido e escrito em Itaparica”, segundo o depoimento de Millor Fernandes. O texto teve circulação restrita, em primorosa edição artesanal. Em 2006, a autora torna-se conhecida em todo o país com o lançamento de Um defeito de cor, narrativa monumental de 952 páginas. O romance encena em primeira pessoa a trajetória de Kehinde, nascida no Benin (atual Daomé), desde o instante em que é escravizada, aos oito anos, até seu retorno à África, décadas mais tarde, como mulher livre, porém sem o filho, vendido pelo próprio pai a fim de saldar uma dívida de jogo. Um defeito de cor conquistou o importante Prêmio Casa de Las Américas de 2006 como melhor romance do ano.
Após residir alguns anos em New Orleans, nos Estados Unidos, Ana Maria Gonçalves retornou ao Brasil em 2014, fixando-se novamente em Salvador.
Profa. Dra. Ligia Fonseca Ferreira
Docente de graduação e pós-graduação em Letras da UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo, na área de língua francesa e literaturas de expressão francesa. Bacharel em Letras (Português, Francês) e Linguística pela USP, e possui doutorado pela Université de Paris 3 – Sorbonne, sobre vida e obra de Luiz Gama. Desenvolve também pesquisas no campo da epistolografia brasileira e franco brasileira – ou seja, de estudos de correspondências entre intelectuais brasileiros, e destes com intelectuais franceses ou de expressão francesa. Há muitos anos, tem se dedicado a divulgar a obra de Luiz Gama. Em 2000, organizou a edição da obra poética integral de Luiz Gama em Primeiras Trovas Burlescas e outros poemas (Martins Fontes, 2000). Reuniu também pela primeira vez textos, sendo na maioria inéditos, em Com a palavra Luiz Gama. Poemas, artigos, cartas, máximas (Imprensa Oficial, 2011 e agora em 2019, na 3ª reimpressão). Tem vários trabalhos acadêmicos sobre o autor, sendo o último o artigo “Luiz Gama autor, leitor, editor: revisitando as Primeiras Trovas Burlescas de Luiz Gama (1859, 1861)” , recém-lançado agora em agosto, na revista Estudos Avançados da USP, já disponível on-line.
Profa. Ms. Luciana Dias
Cientista social e mestra em sociologia pela Universidade de São Paulo. Desenvolveu a pesquisa intitulada “Dinâmicas de raça na periferia: a experiência de jovens na região M’Boi Mirim”. Moradora da periferia de São Paulo, atua em coletivos culturais há mais de uma década. Atualmente é professora da rede pública de ensino na EJA e também trabalha com produção cultural no Sesc São Paulo.
Inayara Iná
Terapeuta holística, escritora, poeta, dramaturga e atriz. Narradora. Negra mãe, integra a peça “Inútil canto pelos anjos caídos” – com sua pesquisa sobre o ideal social de maternidade – e a peça infanto-juvenil “Barauna e Abaré” sobre construção da afetividade do corpo negro e relações interraciais.
Luana Bayô
Dona de um grave potente e marcante, Luana Bayô é cantora e compositora. Nascida na Bela Vista, coração do samba paulista, e criada no bairro do Campo Limpo, Zona Sul de São Paulo, teve seus primeiros contatos com a música através do pai, que era um exímio tocador de cuíca e a levava, ainda criança, para diversas rodas de samba pela cidade. Isso foi fundamental para a escolha do repertório da artista, que traz a música latina, jazz, rock e bolero misturados às levadas da cultura afro-brasileira, através do jongo, samba, maracatu, afoxé, entre outros ritmos, que perpassam suas canções. Já participou de diversos grupos de cultura popular, integrou o espetáculo “Pele Negra, Máscaras Brancas” da Cia Treme Terra, o Vocal Imani e a banda de funk soul Bond´Black. Atualmente, circula com seu EP autoral, intitulado BAYÔ, que traz uma mescla de cantos sagrados às suas influências musicais.